sábado, 26 de janeiro de 2013

literature #3

O Crime do Padre Amaro, Eça de Queiroz

O meu mais recente livro lido.

Esta tornou-se numa das minhas obras favoritas de literatura portuguesa e não só. O Crime do Padre Amaro, é uma obra imponente e controversa, que coloca a nu os podres de uma sociedade beata e ignorante do século XIX, dominada pelo temor a Deus e ao pecado.

Esta obra teve três versões diferentes. Não sei se as três versões se encontram publicadas atualmente, ou se somente a terceira se encontra. Contudo, pelo aquilo que li, as versões diferem muito pouco entre si. Há apenas uma ligeira alteração do enredo, do nome de algumas personagens e da caraterização psicológica do protagonista, o Padre Amaro.

Eu possuo a 3ª versão da Editora Livros do Brasil, uma edição já antiga por sinal, uma vez que esta pertence ao meu avô.

Deixo aqui um excerto que assinala significativamente os detalhes que acima revelei:

"- Meu rapaz, tu podes ter socialmente todas as virtudes; mas segundo a religião de nossos pais, todas as virtudes que não são católicas são inúteis e perniciosas. Ser trabalhador, casto, honesto, justo, verdadeiro, são grandes virtudes; mas para os padres e para a Igreja não contam. Se tu fores um modelo de bondade, mas não fores à missa, não jejuares, não te confessares, não te desbarretares para o senhor cura - és simplesmente um maroto. Outras personagens maiores que tu, cuja alma foi perfeita e cuja regra de vida foi impecável, têm sido julgadas verdadeiros canalhas, porque não foram baptizadas antes de terem sido perfeitas. Hás-de ter ouvido falar de Sócrates, de um outro chamado Platão, de Catão, etc. Foram sujeitos famosos pelas suas virtudes. Pois um certo Bossuet, que é o grande chavão da doutrina, disse que das virtudes desses homens estava o Inferno cheio... Isto prova que a moral católica é diferente da moral natural e da moral social... Mas são coisas que tu compreendes mal... Queres tu um exemplo? Eu sou, segundo a doutrina católica, um dos grandes desavergonhados que passeiam as ruas da cidade; e o meu vizinho Peixoto, que matou a mulher com pancadas e que vai dando cabo pelo mesmo processo de uma filhita de dez anos, é entre o clero um homem excelente, porque cumpre os seus deveres de devoto e toca figle nas missas cantadas. (...)"

(excerto do diálogo entre o Dr. Godinho e João Eduardo)

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