quarta-feira, 24 de outubro de 2012

quote #11

"Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e apenas esse, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se quando, abrindo a janela para dentro de mim pude esquecer-me na visão do seu movimento. 
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão coisa que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumam - quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes de paisagem - uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar."

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

Sem comentários:

Enviar um comentário