quarta-feira, 13 de julho de 2011

11. letter to a deceased person you wish you could talk to

(carta a uma pessoa falecida com quem desejarias falar)

Decidi não escrever esta carta pois tal não se identifica com a minha vontade e com aquilo que vai no meu íntimo. Na verdade, (e felizmente!), ainda não partiu ninguém com quem tivesse uma relação de tal maneira próxima capaz de mover o meu coração e mente e conduzir-me à redacção de textos, cartas soltas sem destino, palavras dirigidas ao Além... Se o fizesse apenas estaria a enganar-me a mim própria.
No entanto, ao ler o título da 11ª carta que constitui o desafio lembrei-me quase automaticamente das várias cartas que Joana redige à sua falecida melhor amiga no livro A Lua de Joana de Maria Teresa Maia Gonzalez, e, decidi postar uma das primeiras missivas de Joana a Marta. Excelente mesmo!

Fica também a sugestão de leitura para este Verão.

"Lisboa, 28 de Agosto

Querida Marta,
Demorei muito para me resolver, o que não era costume. Para dizer a verdade, não sabia que fazer. Precisava de desabafar, tentar compreender tudo o que aconteceu e, como foste sempre a minha única confidente... Não fazia sentido escrever um diário, pois dava-me a sensação de estar a escrever para mim própria, o que acho um bocado estranho. Talvez seja ainda mais estranho escrever-te, mas é uma forma de manter viva a tua memória, pelo menos até entender o que se passou contigo; pelo menos até conseguir perdoar-te...
Faz hoje um mês que tu... Não sou ainda capaz de dizer a palavra. Se calhar, é porque não acredito que já não estás aqui comigo. É tão difícil de acreditar!
Como sabes, hoje fiz anos. São duas da manhã e estou demasiado excitada para dormir. Vou contar-te o que recebi. A minha mãe acedeu finalmente em redecorar o meu quarto - está tal e qual como eu queria! Todo branco (paredes, tapete, colcha, cortina) e até me mandou fazer o baloiço dos meus sonhos: é uma meia-lua de madeira (branca, claro) que está suspensa do tecto por uma corrente, mesmo no meio do meu quarto. É única no Mundo! Fui eu que a imaginei. Quando quero pensar, coloco-a em posição de quarto crescente e quando estou triste, rodo-a para quarto minguante e sento-me até que a tristeza passe. O armário velho foi para o corredor, assim, fiquei com mais espaço para dançar, quando me apetece. Das antiguidades só ficou a "escrivaninha", por causa daquelas gavetinhas todas que sempre me deram um jeitão para os segredos. Sei que acharias demais, mas também foi pintada de branco! À minha mãe tudo isto pareceu um bocado exótico, mas foi forçada a comparar as minhas notas com o Pré-histórico (a quem comprou uma nova prancha de surf carérrima) e não teve outro remédio. Chamou-me caprichosa e não sei que mais. Não me importei. (...)
No que respeita a festa que a minha mãe queria fazer, proibi-a terminantemente e, para a convencer tive de dizer que não havia direito de me estragarem o dia de anos. Sem ti, a festa não seria a mesma coisa, além disso, não tenho vontade de festejar coisa nenhuma. Fazer anos não é assim tão especial como isso, ainda se fossem quinze...
Estou a ficar com sono, finalmente. Preciso de dormir. Espero não sonhar contigo outra vez. É terrível!
Um beijo da Joana

P.S.: (...)"

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