domingo, 18 de novembro de 2012

text #9


Voltar àquele lugar é como arrancar um pedaço de mim. O coração foge do peito a uma velocidade imensa e se fecho os olhos, por breves instantes, revejo tudo. É como viver tudo, uma vez mais, em meros segundos, como folhas de outono que se dissipam pelo céu, levadas pelo vento, eterno mensageiro.
É como ouvir aquela canção e sentir de novo a dor, em estado puro.
Quando oiço a canção, surgem no meu interior, bailarinas que dançam ao som da minha dor com uma graciosidade dantesca. E todo o espetáculo é único, demasiado belo, demasiado magnífico, exageradamente viciante e doentio. E tanto amor que ali há. E eu choro, emocionada.
À medida que a música prossegue, o ritmo torna-se mais rápido e os movimentos das bailarinas tornam-se também eles mais bruscos e violentos, mais dramáticos. Quanta melancolia espelhada nos seus olhares... E eu choro, choro... Choro de emoção, por amor àquele cenário.
E a música prossegue e o ritmo acelera e os movimentos das bailarinas acompanham a evolução da minha dor. Cada vez mais forte, cada vez mais intensa e apaixonada.
A dor é insuportável, como uma doença que se apodera do corpo. Mói-me aos pedaços, mata-me lentamente, delicadamente. Consome-me.

Mas eu quero voltar àquele lugar, voltar a ouvir aquela canção!
Quero reviver tudo outra vez. Sentir a dor, abraçá-la, amá-la. Sofrer. Sentir o desgosto amargo da ilusão, do engano, da felicidade fingida.

Render-me, redimir-me. Adormecer para sempre.

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